domingo, 27 de setembro de 2009

Muito além


Como se as palavras fossem suas e num ato de submissão, na sua presença, todas elas se escondem como se não fossem dignas de aparecer para ti. Nem uma delas é inteligente ou bonita o bastante para ser dita a você. Até o silêncio se incomoda por ser tão calado. Tudo na sua presença.
Nada me pertence, nem as palavras, nem o silêncio. A sua possessão sobre tudo justifica meu comportamento inquieto e esquisito. Não tenho o controle nem dos meus pensamentos. Isso só pode ser magia e das mais negras possíveis. Meus olhos não te reverenciam como todas as outras coisas o fazem, eles te desejam. Eles te vêm tão impuro quanto sagrado.Se houvesse uma maneira de impedir isso, eu não mudaria nada. Porque me faz bem o pensar em você. Faz-me tão bem quanto mal. Tão mal que até me faz esquecer que me faz bem. É quando eu sinto vontade de arrancar os olhos. Mas teria de arrancar muito mais que isso. Já estou impregnada de você. Eu tenho que parar com essa mania de você. Parar com a mania de querer o bom e o belo, com a mania de me afixar às mais ilícitas vontades e de sentir que tudo só será melhor se puder partilhar cada minuto com o mais incrível dos desejos proibidos.

domingo, 20 de setembro de 2009

Tempos Modernos


Composição: Lulu Santos

Eu vejo a vida melhor no futuro
Eu vejo isso por cima do murode hipocrisia que insiste em nos rodear
Eu vejo a vida mais farta e clara
Repleta de toda a satisfaçãoQue se tem direito
Do firmamento ao chão
Eu quero crer no amor numa boa
E que isso valha prá qualquer pessoa
Que realizar a força que tem uma paixão
Eu vejo um novo começo de era
De gente fina, elegante e sincera
Com habilidade pra dizer mais sim do que não
Hoje o tempo voa amor
Escorre pelas mãos
Mesmo sem se sentir
E não há tempo que volte amor
Vamos viver tudo o que há prá viver
Vamos nos permitir!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Cordas

Descabelou-se
Saiu correndo e gritando
Ou gritando e correndo.
Parou. Percebeu.
Frustrada e constrangida.
Ou constrangida e frustrada
Voltou cabisbaixa.
E esperou aparecer qualquer coisa que lembrasse você.
Qualquer movimento similar.
Levou tempo ate perceber que só há um de você.
Não é possível encontrá-lo em todos os lugares que olha.
Se existisse um para cada olhar de dúvida e anseio lançado, o mundo se resumiria a eles.
Nem de longe isso é verdade.
Neste mundo, não há tempo nem espaço para chamarem alguma coisa de nosso.
Como se dois corpos não pudessem desfrutar de um sentimento mútuo.
Não nessa dimensão.
Os universos são paralelos, mas, no infinito, hão de se cruzar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

O que eu quero tem nome

Desejar a liberdade sem entendê-la é como ficar em dúvida entre dois tipos de shampoo e escolher o mais caro por acreditar que seja isso que o defina como melhor.
Ninguém sabe exatamente o que é ser livre. Mesmo assim, sempre foi, e nunca deixará de ser, um desejo comum. Não o tipo de coisa em comum que une. Tende mais para o contrario. Talvez um grupo de garotos que gostariam de ter vivido os anos 70 ou que adorariam ser considerados subversivos em plena ditadura militar sintam-se ligados por ideais de liberdade, igualdade e fraternidade.
Mas, nos demais casos, ou até, não vejo porquê não,entre os “unidos venceremos”, a liberdade é desprendida de qualquer igualdade, quanto mais fraternidade.
Todos temos nossos cativeiros particulares dos quais queremos sempre fugir. É a fuga bem sucedida que eu chamo de liberdade. Exatamente aí que surge o conceito pessoal, íntimo e nada unânime. Já quando não sabemos do que nos desprender, mas ainda assim desejamos algo e o chamamos de liberdade, o termo se torna indefinível.
Nunca ouvi uma criança pedindo liberdade. É a fase da vida em que há mais liberdade. Pelo menos dentro de uma proporção entre o que se deseja e o que se tem.
Os jovens querem muito e muitos querem muito dos jovens. Assim nascem os cativeiros, a vontade de fazer e a sensação de não poder.
Liberdade é um desejo coletivo alicerçado em desejos individuais, não que não haja desejos individuais iguais.
Os adultos, quando jovens, conseguiram pouco do muito que queriam, fazendo-os parar de querer tanto.
Pouca coisa pendente, pouca coisa os prende. Pouco se quer. Pouco se tem. Para quê lembrar de falar das flores? E quem poderá dizer que eles já não são livres? Da mesma maneira que não há quem possa garantir que são felizes.
Não sei qual o limite entre felicidade e liberdade.
Sempre haverá algemas e sempre haverá o desejo de livrar-se delas.
Se digo isso apenas porque sou jovem, saberei apenas quando for adulto. No entanto, hoje, eu sei que ainda que os meus sonhos criem para mim cárceres imundos e cruéis,
Ainda que os meus desejos mais sinceros cobrem de mim uma responsabilidade desonesta,
Ainda que tudo que eu queira resuma-se a não sentir a obrigação de fazer o que quer que seja e que isso traga para mim um estereótipo equivocado.
Ainda que eu me torne refém de tudo que eu possa querer, nunca quero deixar de cantar “liberdade para dentro da cabeça”.