quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Nada Mesmo

Não são os seus olhos distraídos, olhos que nunca me vêem, que nunca me encontram. Nunca me enxergam.
Não são suas palavras displicentes, sempre tão pouco carinhosas.
Não são os seus pensamentos indecifráveis, se existem, se perdem no espaço antes de me encontrarem
Não são os seus gestos bobos que nunca me sentem, suas indiferenças aparentes, ao menos.
Não é nada em você, afinal.
Nenhuma justificativa, nenhuma resposta e todas as perguntas.
Sou eu. É tudo em mim.
São os meus olhos distraídos, que perdidos, só querem te ver.
São as minhas palavras displicentes que muitas vezes não queriam ser ditas. Num turbilhão de emoções elas escapam, nem sempre discretas.
São os meus pensamentos indecifráveis. Eu acho que não quero, mas quando penso, era só o que eu queria. Ou é quando eu deixo de pensar. É quando eu faço a desconexão entre o melhor e o pior para mim.
São os meus gestos bobos que só querem te sentir. Que querem chegar até você. Tento negar, mas é para você que eu caminho.
E é por isso que eu me perco sempre.
Fico no meio do caminho.
Sem norte.
Sem sul.
Sem você.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Sinta o silêncio.
Ouça o que não há para se ouvir.
Não há nada, mais nada aqui.

sábado, 8 de agosto de 2009

O bom é ser inteligente e não entender

Com uma freqüência fora de hora de adolescente em crise, tento me conhecer, saber o que em mim odeio e amo. Ninguém sabe porque se pergunta tanto a respeito de si mesmo, nem por isso deixa de se perguntar. Não fujo desse padrão.
Para estabelecer limites entre o certo e o errado, entre o bom e o ruim, buscamos formar o conceito do que somos, do que faz parte de nós e do que é dispensável.
Busco conhecer-me afim de estabelecer limites entre o bom e o mau, o prestável e o dispensável. Para saber o que a minha moral irá rejeitar, ou apenas para matar a curiosidade de me ser. Foi procurando a mim que encontrei Clara e Alice. Duas pessoas diferentes, mas há sintonia mesmo que nem sempre perfeita. A primeira será eternamente infantil, conserva em si a fantasia. A outra, calejada pelas dores do mundo, é triste e solitária. Clara tem uma timidez ingênua, doce, contrapondo a ousadia de Alice. Se uma coisa me intriga, é o caráter antagônico que faz dessas duas criaturas um único ser.
Os sonhos são pintados em giz de cera, com cores sem nomes. Um caminho fácil de se perder, sempre quero estar onde não estou. O lugar das cores sempre tem um sorriso, um encanto, uma magia. A Clara é quem me faz pensar que o mundo não é preto e branco.
Assim como o arco-íris anuncia a chuva, a Clara dar lugar a Alice que tem muito a dizer, mas descobriu que os pensamentos não são feitos de palavras, pelo menos não essas que já existem, talvez sejam desenhos e por esse motivo não consegue apresentar o que lhe ocorre. Emudece. E como se houvesse tradução exata, ela tenta falar com os olhos. Mais que tudo ela se atreve a sentir. Caótica e intensa. Viver a solidão dramática de quem vive rodeado por pessoas amáveis não é mérito apenas dela. Coração selvagem, o amor tentou domesticar e não conseguiu. Talvez tenha sido este o choque que separou o sonho da realidade. Mesmo sabendo que sonhos podem ser reais e a realidade pode ser um sonho.
Quando uma parece totalmente indiferente à outra, há o sopro de vida que as toma e as une. Engana-se se pensa ser o amor mútuo ou um laço familiar. É um medo que apavora sem motivos. Medo de ser apenas fantasia ou solidão. Medo de ser. Medo de não ser nada. Medo de ser tudo. Medo de não ter o que temer. Para uma, a vida é feita de alguns contos, para a outra ser feliz é vida clandestina. É conflituosa a relação entre duas pessoas diferentes, mas há sintonia mesmo que nem sempre perfeita.
Entendo que não preciso entender. Não nego a curiosidade de saber como nasceu Clara e como chegou-se em Alice, quero por hora saber que elas existem e isso já sei. Então me basta. Desejo sempre, e disso não abro mão, expor o que supostamente acontece aqui e ali, não que isso vá alterar alguma coisa, não altera nada. Não preciso que mude. É a minha anorexia. Minha vida dividida em quase verdades inventadas. Minha interrogação bem sucedida. Não sendo as palavras que definem os sentimentos, retiro-me sabendo que são os sentimentos que definem as palavras.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

É nesse caminho perdido que te encontro mesmo sem procurar
Se eu quisesse que as coisas se consertassem, eu andaria na linha
Mas meus pés me levam para longe
Se eu olhar para trás, já não vejo o começo de tudo
Porque eu me perdi, mas não quero voltar
Não quero voltar
Melhor estar perdido do que te encontrar.
E é nesse caminho perdido que te encontro mesmo sem procurar
Então me leve pra longe
Não me mostre o amor
Seja lá o que for, só fique aqui perto
Já que te encontrei, só fique aqui perto
Não quero mais pensar no medo
Não preciso encontrar a saída
Nem precisa ter saída
Não quero voltar
Não me mostre o amor
Não vá para longe
Não me deixe sentir medo
Só por hoje me abrace de novo.

domingo, 2 de agosto de 2009

Pazxão

Uma eterna apaixonada se apaixona eternamente.
Sonha com o príncipe, beija o sapo, o efeito pode não funcionar, mas o que importa é se apaixonar.
Alguma coisa lhe falta ao coração, aquela coisa que lhe faz respirar fundo e se sentir feliz só por poder respirar fundo.
O jeito é se apaixonar
E se apaixona.
Para quem queria tanto um amor para amar, a reação normal é sempre a surpresa. O amor é um pseudo-pessimista.
E é tudo normal, menos a surpresa.
A eterna apaixonada que se apaixona eternamente olha-se estranha sem se reconhecer.
Frustra-se ao perceber que estava enganada ao pensar ser a paixão que lhe faz respirar fundo e se sentir feliz só por poder respirar fundo.
E não é.
Não para ela que se vê indiferente ao que um dia foi almejado como amor ideal e a felicidade seria um fato.
É triste, ao menos ela sabia o que queria, ainda que estivesse enganada.
Alguma coisa lhe falta ao coração, aquela coisa que lhe faz respirar fundo e se sentir feliz só por poder respirar fundo.
Pensou até que as cicatrizes colecionadas tivessem deixado dormente o coração a ponto de nem mais sentir dor ou amor (sinônimos, eu diria).
Mas isso foi até perceber que não é paixão que lhe faz respirar fundo e se sentir feliz só por poder respirar fundo.
Até que aquele clichê auto-ajuda-pós-fim-de-relacionamento-traumático tem lá sua razão: encontre a paz interna. Procure-a dentro de você.
Procurou, e achou. Era paz que ela precisava.
Como nenhum clichê é comprovado cientificamente e ainda com o álibi de que toda regra tem exceção, ela encontrou a paz interna, mas quem escondeu, escondeu tão bem que ela encontrou numa outra pessoa.
Pazxão
A auto-suficiência é interessante, mas é um caminho muito solitário. Coitada da eterna apaixonada que se apaixona eternamente, é um pecado confessar ter encontrado a paz em outrem.
Não. Encontre aquela coisa que lhe faz respirar fundo e se sentir feliz só por poder respirar fundo dentro de você. E apenas em você.
Bobagem
E ela descobriu tão por acaso.Te viu, chegou perto e por um momento respirou fundo e se sentiu feliz só por poder respirar fundo.